E depois do adeus... / Changing Rooms

Dia 15 de Fevereiro é um dos dias que aqui na Maison vai ficar marcado como o "antes" e o "depois". O dia em que houve talvez a maior divergência, o culminar da partida da primeira vaga de estudantes erasmus. Até agora já tinham partido diversas pessoas... primeiro o Neca em Janeiro, depois aos poucos a Vanessa, a Iolanda, a Inês a Raquel e a Catarina, a Maria, o Mesquita e o Duarte... e muito lá ao longe o Fernando. O tempo passou depressa mas nem sempre bem. Hoje dissemos os últimos adeus. A Catarina, a Carolina, a Rita e o Gonçalo, a Sofia e a Andreia protagonizaram a leva final. Mais tarde irá o Ivan, talvez o último resistente, mas já cá não estarei para assistir uma vez que vou a Portugal para a semana. Vale-nos sempre o facto de o país ser pequeno e de provavelmente nos voltarmos todos a encontrar, quiçá ali a meio, pelo Entroncamento, junto da Ana e do Pedro que estão de malas e bagagens prontas para 4ª feira.

Os últimos 3 dias foram então marcados por virgulas e pontos finais; e reticências... Fiz o último exame - que na verdade foram 2, Cardio e Pneumo - e do qual não posso esperar grande coisa.. deixei o meu quarto, o 132, para passar pelo quarto da Sara durante duas noites e finalmente mudar-me de forma definitiva para as "novas" 4 paredes do 217, ocupados até esta manhã pela "velha" Cata. Resta-me então agradecer à Sara a boa vontade por me ter acolhido e à Catarina a oferta do seu cantinho para eu ficar!

Segue-se um novo parágrafo. Chegam pessoas novas, estabelecem-se novas amizades, olha-se com desconfiança para outras tantas caras estranhas que preenchem os quartos repletos de histórias que muitos não irão conhecer ou sequer imaginar. No meu novo quarto, novamente laranja!, disponho as coisas da forma o mais acolhedora possível e tento dar-lhe um bocadinho de mim (e de ti também, que me mandaste flores e bombons e mensagens no S.Valentim). São 5:20 da manhã e estou de partida para Bruxelas. Vou sair de Paris pela primeira vez sem ser com destino a Lisboa.

Como o Hugo disse, antes de se render ao sono que só durará mais 2 minutos,
"sao 5 e 10 da manhã e estou mais para lá do que para cá; e o teu quarto é cor de laranja". "e trouxeste às costas 3 toneladas de bagagens, de livros e do caraças.."

"estudar em tempo de crise"

Tem-se tornado progressivamente mais dificil estudar, principalmente desde há umas duas semanas para cá.. O ritmo dos exames não perdoa e a dedicação tem de ser constante, e portanto não é de admirar que já me encontre exausta apesar de estar a estuda há apenas (!) um mês!

Com o aproximar do dia 15 todos os amigos da residência começam a ir embora aos poucos e as festas e jantares de despedida sucedem-se... primeiro as "Mosqueteiras" do Porto, depois a Vanessa e por último (mas só por enquanto) a Iolanda. Lá fora o sol brilha, convidativo, e apela à descoberta de Paris, a cidade que não vejo desde os tempos chuvosos e friorentos do Natal. As pessoas passeiam nas ruas, fazem jogging, recostam-se nas relvas para ler. Ou então descem as grandes avenidas comerciais no desespero dos saldos. No meu quarto o calor entra pela janela e queima as costas já de si quase nuas mas que tentam a todo o esforço ler as palavras maçadoras dos livros de Cardiologia. A intensidade da luz é tal que impossibilita qualquer tentativa frustrada de manter abertos os olhos cansados e com sono.

Os convites para as saidas e passeios sucedem-se, assim como as recusas tristes e envergonhadas da minha parte. Não, não posso ir à Disney! Não, não posso ir ver o desfil do Ano Novo Chinês, e não, nem pensar em deitar-me tarde!! Uma bebida? Com certeza, um café se faz favor!!...

"I got to break out...
I got to break out...
I got to step outside these walls
Love outside these walls
I feel my heart breaking
But its a brand new day
Im going down
Im stepping out
Im stepping outside
These walls
(I've seen it done before.. i'm walking on, i'll walk it off, oh i'm moving on)"

Teddy Geiger, "These Walls"

The first goodbye

Há pessoas que por vezes nos tocam de formas dificeis de entender e dificeis de explicar. Pessoas com quem temos contactos breves mas com quem gostariamos de ficar o máximo tempo possivel, o mais próximo possivel. E, por vezes, é somente quando vemos como o tempo escasseia e desaparece por entre os dedos como um punhado de grãos de areia que sentimos que há coisas que não voltam atrás e nunca mais vão voltar a ser o que eram.

A Vanessa marcou definitivamente o meu Erasmus em Paris. Pela sua simplicidade, pela sua cumplicidade, pela sua gulodice!, por todas as razões e mais algumas. A Vanessa emana simpatia e arranca sorrisos onde quer que esteja, é bem disposta e amorosa em qualquer situação. Não é inocente, nem ingénua, nem vive numa redoma de vidro; é verdadeira e defende as suas convicções com garra, é honesta, é justa e tem esperança numa África cada vez mais problemática. É, na verdadeira essência da palavra, aquilo que define uma pessoa "bonita". E ao mesmo tempo é tão dficil descrevê-la por palavras... E é agora,quando chega a altura de ir embora que mais me custa vê-la partir e dizer adeus.

De Portugal até à África do Sul é uma distância tão grande.... são tantas horas, tantos precalços, tantos senãos... mas há em mim, neste momento, uma vontade tão grande e tão vasta de preservar uma amizade que eu sei que se fez forte. Neste momento, só me posso arrepender de não ter estado mais tempo com ela.

Já não existem pessoas como tu. Como te disse, nunca, mas nunca mudes. És única (mesmo..) e isso torna-te muito especial. Tens-me sempre aqui para o que precisares, seja de um local onde dormir, seja para passar umas férias, seja para um desabafo ou para um festejo, até para beber um chá mesmo que pelo Skype (:p).. Vou tentar preservar para sempre a nossa amizade, porque sei que tem valor.

Não é um adeus pois não?.... então.... até logo! See you later.. see you someday.