Apresentei-me às 8:30 da manhã nas urgências, pousei os casacos, vesti a bata e comecei a trabalhar. Como externa, sou a primeira pessoa a ser chamada após a chegada das doentes, o que significa que se não estiver por perto o meu telefone toca logo e tenho de vir o mais depressa possível para o consultório. Ai fazia a anamnese (interrogátório) da doente (o que é pouco mas ao mesmo tempo já é muito, ja que envolve falar bastante!) e chamava o interno de serviço, pois só ele é que pode fazer o exame objectivo (as ecografias, os toques, etc...) e ditar o diagnóstico. Mesmo assim ainda me deu a oportunidade de fazer algumas coisas na presença dele! Enquanto ia ouvindo as "queixas" tentava acertar mentalmente no diagnóstico, mas tal revelou-se mais dificil e menos linear do que eu esperava.
Almoçámos as 16h - no restaurante mais porn de toda a minha vida! - e jantámos perto das 23h.
Pela 00h as urgências estavam calmissimas e não havia mais ninguém para atender. Dirigi-me então para a zona da maternidade propriamente dita, à espera que alguma grávida tivesse a bondade e caridade de parir para eu ver! (odeio o termo parir...). Tive essa sorte pouco depois, quando soube que uma das senhoras ia dar à luz no seu próprio quarto (e não no bloco, o que me fascinou) dois gémeos. Devo confessar que sempre pensei que não me ia aguentar num parto normal, com gritos e episiotomias à mistura mas, contrariamente a todas as minhas expectativas - e talvez com ajudinha da epidural, que veio evitar histerismos - o parto correu maravilhosamente bem e nada me fez impressão, pelo contrário. Tudo foi simples, lindo e natural.
Ainda este não tinha terminado quando fomos chamados de urgência para o bloco operatório, pois uma grávida de alto risco tinha entrado em trabalho de parto e era necessário realizar uma cesariana. Ai tive intervi pela primeira vez no parto, na medida em que fazia parte da equipa médica: o obstetra, o interno e eu. Após o inicio comum a todas as cesarianas, a situação complicou-se ao verificarmos que o bebé não tinha "dado a volta", isto é, que se encontrava com os pés voltados para a região pélvica e não a cabeça. A verdade é que não havia forma de retirar a cabeça sem magoar o bebé ou sem recorrer a forceps, e a alternativa foi cortar o útero ainda mais do que já estava e de forma mais imprecisa. O resultado foi uma hemorragia enorme que demorou imenso tempo a controlar e que me fez temer o pior, pois durante a cesariana não conseguimos ver como está a mãe e esta também nada dizia. Finalmente, e para grande alivio, conseguimos remediar a situação (embora eu pouco mais tenha feito do que aspirar o sangue directamente do abdómen e segurar os afastadores). Não se passou mais nada até de manhã, pelo que consegui dormir entre as 6h e as 8:30h.
Houve uma mistura de emoções neste dia dificil de explicar por palavras....
Durante a tarde nas urgências, uma rapariga da minha idade e com uma gravidez de poucas semanas apareceu com uma hemorragia de alguns dias. Pensei logo que tivesse abortado mas nada mais era do que um susto provocado por um útero frágil. A rapariga começou a chorar emocionada assim como o marido ao verem as imagens a preto e branco, mal definidas, mas que queriam dizer tanto. A alegria do momento...
Mais tarde uma grávida apareceu com o marido a queixar-se de um sangramento ligeiro. Por já ter errado alguns diagnósticos, não pude acreditar quando se constatou, pela ecografia, que tinha ocorrido um aborto espontâneo e que o feto ja estava morto dentro do útero. Nada de movimentos fetais, nada de batimentos cardiacos... só a imagem, estática... Transpareceu que era uma gravidez muito desejada e não houve sensação pior nesse dia do que a sensação de perda e de impotência.
O riso e a boa disposição foram porém a sensação predominante na consulta de uma senhora de 37 anos que tinha o preservativo "perdido" há já 48 horas e que, fosse de que maneira fosse, não o conseguia tirar! Após uma extracção rápida foram receitadas a pilula do dia seguinte e serologias para eliminar alguma infecção por DSTs.
E, finalmente, os partos... um tão fácil e outro tão dificil mas que acabaram da melhor forma... a felicidade dos pais foi contagiante... e soube tão bem receber um agradecimento especial no final de cada operação.
Ainda este não tinha terminado quando fomos chamados de urgência para o bloco operatório, pois uma grávida de alto risco tinha entrado em trabalho de parto e era necessário realizar uma cesariana. Ai tive intervi pela primeira vez no parto, na medida em que fazia parte da equipa médica: o obstetra, o interno e eu. Após o inicio comum a todas as cesarianas, a situação complicou-se ao verificarmos que o bebé não tinha "dado a volta", isto é, que se encontrava com os pés voltados para a região pélvica e não a cabeça. A verdade é que não havia forma de retirar a cabeça sem magoar o bebé ou sem recorrer a forceps, e a alternativa foi cortar o útero ainda mais do que já estava e de forma mais imprecisa. O resultado foi uma hemorragia enorme que demorou imenso tempo a controlar e que me fez temer o pior, pois durante a cesariana não conseguimos ver como está a mãe e esta também nada dizia. Finalmente, e para grande alivio, conseguimos remediar a situação (embora eu pouco mais tenha feito do que aspirar o sangue directamente do abdómen e segurar os afastadores). Não se passou mais nada até de manhã, pelo que consegui dormir entre as 6h e as 8:30h.
Houve uma mistura de emoções neste dia dificil de explicar por palavras....
Durante a tarde nas urgências, uma rapariga da minha idade e com uma gravidez de poucas semanas apareceu com uma hemorragia de alguns dias. Pensei logo que tivesse abortado mas nada mais era do que um susto provocado por um útero frágil. A rapariga começou a chorar emocionada assim como o marido ao verem as imagens a preto e branco, mal definidas, mas que queriam dizer tanto. A alegria do momento...
Mais tarde uma grávida apareceu com o marido a queixar-se de um sangramento ligeiro. Por já ter errado alguns diagnósticos, não pude acreditar quando se constatou, pela ecografia, que tinha ocorrido um aborto espontâneo e que o feto ja estava morto dentro do útero. Nada de movimentos fetais, nada de batimentos cardiacos... só a imagem, estática... Transpareceu que era uma gravidez muito desejada e não houve sensação pior nesse dia do que a sensação de perda e de impotência.
O riso e a boa disposição foram porém a sensação predominante na consulta de uma senhora de 37 anos que tinha o preservativo "perdido" há já 48 horas e que, fosse de que maneira fosse, não o conseguia tirar! Após uma extracção rápida foram receitadas a pilula do dia seguinte e serologias para eliminar alguma infecção por DSTs.
E, finalmente, os partos... um tão fácil e outro tão dificil mas que acabaram da melhor forma... a felicidade dos pais foi contagiante... e soube tão bem receber um agradecimento especial no final de cada operação.
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